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Grávida !


“Estou grávida!” esta foi a frase que me tirou o chão. Quem a disse foi minha melhor amiga. Amiga, amiga de verdade, daquelas de infância. Eu e ela crescemos juntas. Aprendemos a andar de bicicleta. Ralamos o joelho. Tomamos o primeiro porre. Descobrimos os garotos, "paixonites" de adolescente, causadoras das primeiras decepções amorosas. Cantamos música de dor de cotovelo. É que primeiro amor só serve mesmo para ser o primeiro.

Superada essa fase, chegou a nossa hora de passarmos para o time das casadas. Primeiro ela, alguns meses depois, foi a minha vez de trocar de estado civil. Sim, ela foi madrinha do meu casamento. E eu, do dela. E agora, essa notícia de gravidez.

Fiquei feliz, muito, e, surpresa também. Eu sempre pensei que a maternidade significa amadurecimento. Ficar adulta. Muito mais do que com o casamento. A responsabilidade é muito maior. E, de repente, minha amiga vai ser mãe. Nós, que vivíamos em companhia uma da outra, unidas. Era como se fosse comigo. Um filho é a mudança de geração. Passar o bastão, como dizem os mais velhos. É, ao mesmo tempo, uma pequena morte e um grande renascimento, ensinar à uma pessoa o que você aprendeu ao longo da vida para que ela dê continuidade à sua espécie na Terra. Por tudo isso, é um ato de generosidade suprema. Vem com a certeza de que os anos se passaram. Criar uma criança é ver o tempo passar bem diante de nossos olhos.

Eu me descobri mais velha com essa notícia, não sei se mais madura, não sei se madura o suficiente para ter também meu próprio filho. Mas, envelhecida, com certeza. A minha amiga de infância, mãe! Agora, eu sabia que nossa adolescência e toda boa irresponsabilidade daqueles tempos, nunca mais!

Imagem: Flickr/Creative Commons: Renata Nascimento Abreu

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O dia em que meu casamento acabou


Ela estava atônita. Durante todo o namoro tinha suportado dividi-lo com a televisão. Casaram-se. A bendita ficou instalada na sala. Mas agora ele havia cismado de levá-la para o quarto. O único lugar que era só deles. Isso não podia acontecer.
Foi até à sala, sabia que ele estaria lá, no lugar de sempre, do jeito de sempre, deitado, melhor, esparramado no sofá, assistindo à TV.
- Quanto ela custou? - indignada apontado para a televisão.
- Uns quinhentos reais... – sem sequer desviar o olhar.
Voltou para o quarto, abriu uma das seis portas do guarda-roupa cor de mogno, estava ali seu objeto de metal mais precioso, uma latinha de bombons que hoje servia pra juntar moedas e dinheiro trocado. Contou: “quinhentos reais! E ainda sobra um troco”.
Encontrou a mesma cena quando retornou à sala. Puxou a tomada, desligou a rival.
- Por que você desligou a TV? - ao sair da inércia.
- Vou levá-la lá pro quarto. – com voz de
vilã de novela.
Custando a carregar o peso, caminhou para quarto. Primeiro, botou o aparelho encima da cama cor de mogno do casal. Foi à janela. Olhou para baixo, ninguém na calçada. Eles moravam no 303 de um prédio que era o último de uma rua sem saída num bairro residencial e que não tinha vizinhos de frente. Portanto, quase não havia movimento. Àquela hora: três da tarde de uma quinta-feira útil, nem formigas devia haver na calçada. Perfeito para a execução do plano. Atirou a TV pela janela.
- Que barulho foi esse? – gritou ainda jogado no sofá.
- Num sei, deve ser na construção ao lado. – calma e aliviada.
Pegou vassoura, pázinha e saco de lixo na área de serviços e desceu para dar um enterro digno àquela com quem rivalizara a atenção do marido por tantos anos.
Juntou os pedaços do que nunca mais ficaria inteiro. Botou tudo dentro do saco preto de lixo e colocou na lixeira. Higienicamente.
Voltou pro apartamento. Arrumou as roupas e alguns objetos pessoais dentro de uma enorme mala rosa-choque de rodinhas. Pegou a latinha que foi de bombons e agora e´ de dinheiro. Olhou pro guarda-roupa cor de mogno, pra cama de casal cor de mogno e pra cômoda cor de mogno, encima da qual, ele queria entronar a falecida.
Ao passar pela sala, colocou quinhentos reais encima da estante cor de mogno.
- Aonde você vai? – quase dormindo.
- Ali.
“Mesmo com esta mala, nunca desci estas escadas tão leve.”

Imagem: Flickr/Creative Commons: Jeff Belmonte

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Flores para recepcioná-los!


Este blog nasceu para publicar conteúdos relacionados ao cotidiano feminino. Ficções e fatos reais que poderiam acontecer com qualquer uma de nós. Os homens também estão convidados a participar, apesar do objetivo e do nome blog. Aliás, quem o batizou foi meu marido. Portanto, rapazes, sintam-se à vontade! Sem mais delongas, vamos às feminices!

Imagem: Daniela Fonseca

 
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