De pernas pro ar


Assisti ao filme De pernas pro ar. Gostei. Acho que o melhor adjetivo para definir esta película é: divertidíssima. Ri alto com as cenas protagonizadas por Ingrid Guimarães. Também são engraçadas as participações da atriz Cristina Pereira que vive a empregada doméstica Rosa. Portanto, como comédia, o filme cumpre bem o seu papel.

Ingrid Guimarães interpreta Alice, uma mulher obcecada pelo trabalho. Em função disto, ela deixa de lado o marido e o filho. Na verdade, ela não se atenta para sua vida pessoal. Na visão dela, o casamento ia bem porque tinha um carro do ano, um apartamento confortável, uma boa empregada doméstica e viajava para o exterior todos os anos. Alice também vivia uma ilusão de que tinha felicidade devido ao fato de trabalhar no que gostava e ter alcançado relativo sucesso. Até que num belo dia, o mundo dela cai: é demitida e o marido pede para dar um tempo ao casamento.

Neste momento, começa uma fábula moderna. Alice consegue se reinventar. Ela descobre o prazer de viver e o prazer sexual, se torna sócia de uma sex shop e chega ao ponto mais alto da carreira. De quebra, restabelece a convivência com o filho e traz o marido de volta.

O contrário desta narrativa feita em De pernas pro ar é o que fazem os contos de fadas. Li sobre isto hoje num ótimo texto de Regina Navarro Lins. De acordo com a referida autora, os contos de fadas desestimulam as mulheres a tentar melhorar suas vidas com seus próprios méritos. O que eles incentivam é que as donzelas vivam à espera do príncipe encantado que resolverá todos os seus problemas.

Outra questão abordada por Regina Navarro Lins é que os contos de fadas estimulam a mulher a cuidar de seu corpo de forma a adequá-lo ao gosto do homem que ela pretende fisgar.

Em De pernas pro ar, Alice não segue as regras dessa cartilha. Ela se esforça para resolver os seus problemas e encontrar um equilíbrio entre a vida profissional e a pessoal. A protagonista também não sujeita seu corpo aos caprichos masculinos. Em uma cena simbólica e hilária ela aparece com um pênis de borracha preso à cintura. Tal visão deixa o mocinho, marido dela, aterrorizado.

Infelizmente, a moral dos contos de fadas ainda se encontra em alguns filmes, novelas, séries e livros. Entretanto, para manter acesas a esperança e a luta das mulheres há também produções culturais que mostram o gênero feminino ocupando espaços na sociedade e assumindo o controle de suas vidas e de seus corpos.

Imagem: Divulgação

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