Viva os quarenta!


“Uma mega festa! Quero comemorar a chegada dos meus quarenta anos em grande estilo! Pra isto, nada melhor do que uma festa como eu nunca tive antes na minha vida! Vai ser um brilho!” Esta era minha cabeleireira esfuziante com a proximidade da data em que ficaria mais velha. O convite da festa de seu aniversário já denunciava esta alegria. Ele era ilustrado com uma foto dela ostentando o típico sorriso largo e uma frase em letras garrafais que dizia: Enta! Enta! Enta! Cheguei aos meus quarenta!

No dia do tão esperado acontecimento, o sonho tornou-se realidade. O salão enfeitado à maneira que ela queria, o topo do bolo decorado com uma bonequinha que segurava nas mãos um secador de cabelos e as músicas que ela gosta de ouvir e de cantar tocando a pleno vapor.

Após um pouco de suspense, ela apareceu majestosa para brilhar na sua noite mágica. Mal entrou no salão e foi rodeada de amigos e familiares. A música que tocava parou e um de seus filhos cantou em sua homenagem. Um pequeno documentário de sua vida foi exibido. Na tela do cinema improvisado se alternavam: os pais, os irmãos, os filhos, o casamento, os amigos, a profissão. O resumo de uma trajetória passou diante dos olhos emocionados de quem assistia. Enganei-me, não era o dia de oficializar que ela havia envelhecido mais um ano, ao contrário, rejuvenescia.

Sempre pensei que os quarenta anos é uma idade enigmática. Está bem longe da velhice, mas, também já se distanciou da juventude. Não estou só nestas inquietações. Já houve música que entoou no refrão: "a vida começa aos quarenta!". Filmes também já retrataram esta fase conturbada da existência do ser humano, principalmente, se este for uma mulher. O roteiro de um que assisti certa vez, tratava de quatro amigas que já tinham entrado na quarta década de vida e queriam fazer uma peça teatral para falar de suas vivências como quarentonas. Porém, o diretor delas dizia que não teria a menor graça porque mulheres de quarenta não confessam nada.

Será que mulheres desta idade ainda têm algo a confessar? São, suficientemente, donas de seus erros e acertos. Mulheres de quarenta são mais loucas do que as de vinte e as de trinta? Dizem que aos vinte anos as mulheres sabem por quê sofrem, aos quarenta, não. Acredito que nós mulheres, seja lá qual for a idade, não precisamos de motivos exatos para chorar.

Depois da
festa de aniversário da minha cabeleireira, fui dormir com menos medo dos quarenta anos. Sim, já penso neles há algum tempo, pois, já passei da metade do caminho. Espero que quando eles chegarem eu também tenha vontade de festejar muito.


Imagem: Creative Commons/Flickr: Peti Deuxmont

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