As mulheres e a espera


Acabei de reler “Colheita”, Nélida Piñon. Esta obra fala de uma linda história de amor. Semelhante aos contos de fadas, o casal de personagens principais vive um romance de sonhos. Porém, num certo momento da narrativa, o mocinho deixa sua amada para aventurar-se pelo mundo. Ela recolhe-se em casa e espera que ele retorne. Durante o tempo que passa e reclusa, ela cria um mundo próprio dentro de seu lar. A “Colheita” e o fragmento de vida de uma faxineira que pude acompanhar de ouvido me fizeram pensar nas mulheres que vivem a esperar por seus homens. Revirei o baú da minha memória e me lembrei de várias delas, jovens cheias de sonhos ou idosas resignadas, entretanto, companheiras na nobre arte de esperar.

Viviane, uma amiga minha, casou-se ansiosa para viver uma “vida de mulher casada”, como havia sonhado desde a infância. Teve o sonho interrompido. O marido, no segundo mês de casamento, teve que viajar a trabalho para o exterior. Ela voltou para a casa de seus pais e esperou, passados quase dois anos, ele retornou. Viviane retomou seu sonho como se nada tivesse acontecido.

Minha avó viveu uma “vida de mulher casada” durante longos anos. Meu avô faleceu. Ela não titubeou, passou a usar a aliança que foi dele junto à sua no dedo anelar. Toda vez que perguntávamos: “Vó, porque a senhora usa duas alianças no dedo?”. Ela respondia altiva: “É assim que as viúvas fazem, meus queridos.” Ela nunca teve outro companheiro. Acredito que ela espera reencontrar meu avô um dia.

Uma amiga de uma amiga minha, de quem eu, definitivamente, não me lembro o nome, se apaixonou por um homem lindo, sensível e homossexual. Ela espera que ele lhe faça um pedido de namoro e se case com ela. Amores platônicos também resistem ao tempo.

Cresci ouvindo o caso de Dona Ruth. Ela era casada com um boiadeiro que foi levar uma boiada para uma fazenda bem distante e nunca mais voltou. Toda vez que Dona Ruth escutava um tropel de cavalos ao longe, vestia um vestido branco rendado, colocava uma flor de laranjeira nos cabelos e corria para a janela. Porque era assim que as moças do interior faziam quando chegava uma comitiva de boiadeiros.

Existem histórias e mais histórias de mulheres que esperam por homens que foram para a guerra. As portuguesas até contribuíram para encher e salgar o mar de tanto que choraram à espera dos patrícios.

Esperar. Esperar um homem buscá-la no emprego, esperar por um futuro namorado, esperar o marido retornar ao lar, esperar o amado regressar vivo da guerra, esperar por homem que já morreu. Viver de esperança, não importa em que. Eu penso que só as mulheres conseguem esperar. Porque só elas sabem, enquanto esperam, criar um mundo seu, mais rico do que o exterior.


Imagem: Creative Commons/Flickr: Sheila Tostes

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