Faxineira


A faxineira. Assim, sem nome, não porque eu goste de chamar as personagens pela profissão que elas têm, mas, porque eu não sei o nome dela. Não sei seu nome e não poderia inventar um. Esta faxineira existe. Eu acompanhei um fragmento de sua vida. Ouvi sua voz, não vi seu rosto. Portanto, ela já tem um nome. Eu só não sei qual é. Não poderia dar-lhe um nome como faria a uma personagem qualquer. Não posso rebatizar alguém.

Lá no prédio, é possível ouvir quase tudo que acontece em todos os andares, em todos os apartamentos. Eu estava ao computador gastando o tempo quando ouvi uma
voz. Era estranha. Não era de nenhum morador do prédio. Só se alguém tivesse se mudado no dia anterior e fosse a primeira vez que eu ouvisse a sua voz. À esta altura, eu já tinha certeza de que não era voz de vizinho. Acompanhei de ouvido a conversa. A mulher falava ao telefone. Perguntava nervosa a quem estava do outro lado da linha se a pessoa sabia onde ele estava. Afirmava que havia terminado seu serviço e esperava há muito tempo para que ele viesse buscá-la. Conclui: era a faxineira. Ela ligou para mais três pessoas à procura deste homem. Depois, os “bips-bips” que as teclas do celular emitiam ao serem pressionadas pararam, a voz desesperada calou-se. Ela se entregou resignada à espera. A faxineira trabalha para ganhar o próprio dinheiro, mas, espera um homem vir buscá-la.

Passado algum tempo, ouvi o barulho de uma moto estacionar enfrente ao prédio. Lá, também dá para ouvir todos os veículos que passam na rua. Da janela pude ver. Era o homem tão esperado. A faxineira reclamou um pouco da demora. Ajeitou rodo, balde e vassoura. Tentei ver seu rosto, o capacete impediu. Subiu encima da moto. Partiram. Eu os observei até dobrarem à esquina.

Imagem: Creative Commons/Flickr: Tiago Zaniratti's

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