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Falcão mulheres e o tráfico


Uma incursão pelo mundo do tráfico de drogas é o que faz o livro Falcão mulheres e o tráfico de Celso Athayde e Mv Bill. Cada lugar que os autores percorrem nos revela personagens que vivem submersas numa crosta de invisibilidade social. Mães, filhas, irmãs, amigas, esposas e namoradas de traficantes são as mulheres que compõem o retrato de um Brasil que quase ninguém vê. As ilustrações do Núcleo Feminino de Grafite da CUFA ajudam a obra a desempenhar esse papel.

A presença da figura feminina está envolvida em diversas facetas do tráfico de drogas. Muitas mulheres têm suas vidas ligadas ao universo do crime de maneira indireta, são as familiares de traficantes. Outras estão envolvidas na hierarquia deste comércio ilegal. Elas ocupam postos que vão desde a viciada que se prostitui para satisfazer o vício até a dona do morro, chefe de sua quadrilha.

Ao relatar como vivem essas mulheres o livro traz histórias irônicas, trágicas ou, simplesmente, reais. Entre tais passagens destaco duas: a da traficante que vende as drogas em sua própria casa como se fossem sacolés e a da chefe que comanda o morro com mãos de ferro e promove severos tribunais do tráfico.

A vida nos morros é descrita com o que ela tem de prosaico e de chocante. Os autores elaboram as narrativas com a proficiência de quem conhece a realidade que está abordando. O resultado é um relato pungente de vozes que precisam ser reverberadas para serem ouvidas.


ATHAYDE, Celso; BILL, MV. Falcão mulheres e o tráfico. Rio de Janeiro:Objetiva, 2007.

Imagem: Daniela Fonseca


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Sobre camisinhas e pedras


Reza a lenda que Maria Madalena, a pecadora, supostamente prostituta, seria morta sob as pedras da sociedade que a julgava. Porém, as pedras da intolerância recuaram quando os algozes voltaram seus olhos para si próprios.

Hoje, camisinhas são atiradas contra os prostitutos. Não que eles não devam usá-las. Sim, eles devem. Assim como qualquer outro indivíduo sexualmente ativo. Porém, recomendar o uso da camisinha, somente, nas relações com os prostitutos é como se os julgassem maculados apenas com base na maneira como eles vivenciam sua sexualidade.

Os séculos se sucederam. A intolerância diminuiu, mas, nem tanto...


Imagem: Creative Commons/Google

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Dilma Rousseff na lista da Forbes


A segunda vitória de Dilma Rousseff em menos de uma semana. Após ser eleita a primeira presidenta do Brasil, a petista passa a integrar a lista da Forbes dos mais poderosos. A publicação deu à futura governante o 16º lugar em seu ranking. Ela é a única mulher brasileira a figurar entre os escolhidos.

Dilma governará aquela que é a principal economia da América Latina e uma das maiores do mundo. Ela terá em sua trajetória uma Copa do Mundo (2014) e lançará as bases para uma Olimpíada (2016). A sucessora de Lula também será desafiada a manter e expandir os ganhos sociais do governo do qual fez parte. Dilma se torna a líder de todo o processo socioeconômico que o país atravessa nos últimos anos. Esses são motivos mais que suficientes para fazer dela a ocupante do 16º posto na lista da Forbes.

Entretanto, para além de toda essa conjuntura, a eleição de Dilma Rousseff já é um fato histórico, independentemente, dos resultados que ela obterá como governante. Ela é a primeira presidenta do Brasil. Eleita democraticamente. Este acontecimento é um marco da luta contra a desigualdade de gêneros. É uma vitória para todas as mulheres brasileiras, cidadãs que ainda necessitam de muitas transformações socioculturais para adquirirem o respeito que merecem.

A Forbes, de certa forma, reconheceu a importância do êxito eleitoral de Dilma. Enquanto era apenas candidata à presidência da República, ela ficou com 95º no ranking que a publicação fez das cem mulheres mais poderosas do mundo. Agora, eleita, a próxima governante do Brasil tem o 16º entre os mais poderosos do mundo, segundo a concepção da revista norte-americana.


Imagem: Creative Commons/Google

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Marilyn e JFK

Marilyn Monroe está nua. John Fitzgerald Kennedy também. Quem os desnudou foi François Forestier em seu livro Marilyn e JKF. Para tratar da história de glamour e momentos obscuros do ilustre casal, o autor alerta que foi preciso “uma sólida documentação, um editor paciente e um defeito crucial: uma má índole”.

A diva, a mulher que despertou desejos e inspirou gerações, tem sua vida relatada. Desde quando era a anônima dona-de-casa Norma Jane. A moça do interior já sabia que para ser uma grande estrela, sonho também de tantas outras, era preciso sonhar mais forte que as demais mocinhas. Ela não queria apenas o dinheiro, queria ser o centro de todas as atenções, queria a glória. Conseguiu.

O livro procura mostrar essa trajetória por inteiro, também com seu lado negro. Crises, delírios, vícios, perseguições, traições, casamentos fracassados, medos e histerias, ajudam a compor o cenário das estreias de grandes produções cinematográficas, das festas luxuosas e da vida de riquezas. A personagem é uma mulher poderosa e sensual que não primava pela higiene e se comportava como uma taça de cristal. Pronta para se espatifar. Uma contradição que vagava pela alta sociedade. A musa que conquistou o mundo, mas, não conseguiu ser a primeira-dama americana.

John Fitzgerald Kennedy é apresentado como um homem adoentado, entregue aos prazeres sexuais, que adora ler revistas de fofocas e que se tornou presidente por causa da vontade e do empenho (lícito e ilícito) do pai.

O ambiente em que o relacionamento de Marilyn e JFK acontece assemelha-se ao de um romance policial. É permeado de investigações do FBI, CIA e KGB, de escutas clandestinas e da mão pesada da máfia. É a época da Guerra Fria. São tempos de sussurros e gemidos.

O texto é ágil, acompanha o ritmo das ações. Metáforas, onomatopeias e frases curtas embalam a escrita. Vale pela forma e pelo conteúdo.

Porém, é preciso deixar a ficção em seu devido lugar. Isto, porque não acredito que ícones nasçam daquilo que foi apenas um playboy mimado e uma linda débil. A aura de mistério em torno de Marilyn Monroe e John Fitzgerald Kennedy permanece após a leitura. Aliás, é também disto que os mitos são feitos.

FORESTIER, François. Marilyn e JFK. Trad. Jorge Bastos. Rio de Janeiro:Objetiva, 2009.

Imagem: Daniela Fonseca


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As mulheres mais poderosas do mundo


A revista Forbes elaborou a famosa e aguardada lista com o nome das cem mulheres mais poderosas do mundo.

O ranking é liderado por
Michelle Obama. Após sua participação bem-sucedida na campanha presidencial do marido, ela conseguiu manter a popularidade no cargo de primeira-dama.

Também figuram entre as escolhidas Irene Rosenfeld, Hillary Clinton, Angela Merkel, Oprah Winfrey, Ellen DeGeneres, Lady Gaga, Beyoncé Knowles, entre outras executivas, celebridades, líderes do mundo da política, cantoras e ícones da mídia. Duas brasileiras estão na seleção: Gisele Bündchen e Dilma Rousseff.

Esta edição da lista
inovou. Ela teve como orientação a influência criativa, a capacidade de formar opinião e o empreendedorismo. Antes, os principais quesitos eram o poder e a riqueza. No ano anterior, Michelle Obama ocupou o 40º lugar.

Rose Marie Muraro, estudiosa do feminismo, apontou que a liderança feminina é uma alternativa que se destaca por sua capacidade inovar e de gerir considerando as
necessidades da sociedade e as demandas ambientais. Aspectos nos quais o mundo, até hoje liderado por homens, apresentou certas dificuldades.

Não estou convencida de que essas qualidades são inatas das mulheres e nem da inaptidão da ala masculina em adquiri-las. As condições de vida dos seres humanos e o cuidado com meio ambiente são questões que se colocam para
todos. Que as poderosas e os poderosos considerem esta realidade. E aqueles que os escolhem, também.

Imagem: Creative Commons/Flickr: GViciano

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Dilma e Marina


Me dá uma alegria danada ver Dilma Rousseff e Marina Silva disputarem a presidência do Brasil. As candidatas colocam à disposição dos eleitores consideráveis trajetórias na vida pública, apresentam propostas, não fazem feio nos debates, enfim, representam dignamente as mulheres brasileiras.

O desempenho de Dilma e Marina é um avanço para a história do gênero feminino no nosso país. Se fizermos uma retrospectiva na política nacional, isto fica, ainda mais, flagrante. Na ocasião da elaboração da Constituição de 1988, apenas 5% dos constituintes eram mulheres. Em 1933, houve apenas uma deputada, Carlota Pereira de Queiroz, a integrar a Constituinte. Na de 1946, as mulheres não foram representadas. Hoje, entre os quatro principais candidatos ao mais alto cargo do Poder Executivo, duas são mulheres. 50%, dez vezes mais que as constituintes.

Dilma Rousseff lutou durante a ditadura militar para devolver o Brasil aos brasileiros. Fez mais, com o término do governo Lula, entrega aos cidadãos uma nação melhor para se viver. O trabalho que desenvolveu como secretária de Minas e Energia do Rio Grande do Sul, ministra de Minas e Energia e ministra chefe da Casa Civil, transformou a líder estudantil em uma líder nacional.

Marina Silva, a menina da floresta cresceu e fez seu povo crescer junto com ela. Marina foi alfabetizada já na adolescência e colocou-se a serviço dos cidadãos como vereadora, deputada estadual, senadora e ministra do Meio Ambiente. A senadora defende a soberania socioambiental do Brasil. E de soberania, ela entende.

Mulheres vencedoras, Dilma e Marina. Elas representam muitas outras vitoriosas anônimas que estão espalhadas pelo nosso país. Seria um sonho poder eleger a duas. Pensando bem, já é um sonho realizado poder eleger uma das duas.

A participação de Dilma e Marina no processo eleitoral é uma vitória, independentemente de quem os votos elejam. Temos motivos pra comemorar. Vencem as mulheres, vence a luta contra a desigualdade de gênero, vence o Brasil, vence a democracia.

Imagem: Creative Commons/Google

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A Foto


Um zoom panorâmico. É isto que o livro A Foto de Alberto Renault faz. Um zoom panorâmico pelo mundo da arte, da moda, da fama e do consumismo. É no momento em que estes elementos se encontram que o autor tira o retrato da vida contemporânea e o revela nas páginas de sua obra.

Os cenários usados para compor este quadro são muitos e diversos. A trama viaja por Rio, São Paulo, Los Angeles, Tóquio, Salvador, Ilha Awaji/Japão, Paris, Nova York, Moscou, Campos do Jordão, Buenos Aires, Atenas, Taubaté, Milão e Vietnã. Os enquadramentos mostram favelas, praias, centros urbanos, monumentos históricos, passarelas, estúdios fotográficos. Tudo isto é visto pelas lentes de um escritor que, dentro de um apartamento típico da classe média, com auxílio de seu namorado, escreve um livro.

Os personagens que compõe esse retrato são modelos, artistas, donas-de-casa, empregadas domésticas e prostitutas. Alguns deles são identificados apenas pelas iniciais dos nomes, como por exemplos, L.P. e F.. Entretanto, o passeio que muitos deles fazem entre o
glamour e as entranhas da vida real já é o suficiente para criar empatia entre eles e o leitor.

Sexo, drogas, luta pela sobrevivência cotidiana, vida caseira, se linkam para contar essa história. Os fragmentos se unem por um texto rápido e próximo à
linguagem oral.

Um detalhe que chama a atenção nesta obra é a forma como são usadas as
notas de rodapé. Aliás, nem sei se estas podem ser assim chamadas. Elas aparecem em grande parte das páginas, mas, não são, como de costume, grafadas com letrinhas miúdas, espremidas no final da página e com informações acessórias. Elas têm fontes do mesmo tamanho que o restante do texto, às vezes, ocupam quase a página toda e são totalmente integradas à história.

São essas “notas” que trazem elementos importantes à obra. Elas dão informações sobre a carreira de renomados artistas. Entre eles, o ilustrador Yoshitomo Nara, a escritora Banana Yoshimoto
e os fotógrafos Malick Sidibé, Tatsumi Orimoto e Nan Goldin.

Ícones do consumismo como Chanel, Adidas, Louis Vuitton, Fendi, Dior, também ajudam a compor o quadro.

A Foto
fotografa um ângulo da contemporaneidade, fala de fotos e fotógrafos célebres e revela personagens que não dispensam um flash. Aliás, os personagens são as mais belas paisagens nesse quadro.

Um livro de 132 páginas, rápido de ler, A Foto é uma boa companhia para o fim de semana.

RENAULT, Alberto. A Foto. Rio de Janeiro:Objetiva, 2003.

Imagem: Daniela Fonseca

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Dia Internacional da Mulher


Eu não queria fazer um post em nossa homenagem baseado somente no que penso. Então, resolvi saber o que outras pessoas nos desejam no Dia Internacional da Mulher.

Uma amiga minha disse que todas nós merecemos ser convidadas para um jantar comemorativo. Uma colega me falou que este deveria ser o dia no qual todas as mulheres teriam seus salários igualados aos dos homens que exercem o mesmo trabalho que elas. Também há quem revelou que, em sua opinião, hoje deveria ser feriado, mas, só para as mulheres.

Um garotinho me disse que deseja toda felicidade do mundo para as mulheres, se elas forem parecidas com sua mãe. Um senhor confessou que desejaria para suas filhas um mundo parecido com o que a avó dele foi criada. Um amigo sentenciou: vocês deveriam ter um dia de homem, com direito a abrir a porta do carro para seus companheiros e mandar flores.

Hoje eu vi várias mulheres carregando rosas. Sempre pensei que a rosa é uma flor que simboliza o feminino. É suave e têm espinhos, discreta e nunca passa despercebida. É linda.

Ser mulher é um prazer e um sofrimento. É um monte de conceitos novos atribuídos a nós e também, alguns antigos que insistem em permanecer. É uma confusão. Desejo que nós mulheres sejamos felizes, apesar de tudo isso e com tudo isso. Rosas para todas nós.


Imagem: Creative Commons/Flickr: Gabriel Pevide

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Descabelada


Para ela os cabelos sempre foram um problema. No auge do desespero já chegou até a pensar que todas as pessoas deveriam ser carecas. Seria uma economia de dinheiro e de tempo. Exageros à parte, a verdade é que os cuidados com cabelos dão muito trabalho. E o pior é que, às vezes, depois de todo esforço despendido, eles nem dão o retorno esperado. Não é à toa que muitas mulheres têm várias histórias engraçadas sobre eles. Quem não tem cabelo de comercial de xampu, não atira críticas no das outras. Assim, a vida segue sem grandes embaraços.

Em mais um interminável capítulo de “O que fazer com estes cabelos?” ela resolveu fazer umas mechas. Mechas loiras. Um tom abaixo do natural do cabelo. Mais uma tentativa de dar luz, leveza e tirar as madeixas da apatia. Missão quase impossível para uma cabeleireira, cabeleireira esta que já é uma amiga. Há quase dez anos ela é responsável por domar a fera, ou melhor, cabelo.

A cabeleireira logo sentenciou: vamos passar um tonalizante para uniformizar a cor e, depois, fazer as mechas com descolorante. Ela que não entende muito de coloração, concordou com a profissional. A arte foi feita. Entretanto, não saiu como o esperado. As mechas ficaram vermelhas e não loiras. Para tentar corrigir, mais uma camada de descolorante foi passada, um tonalizante loiro-acinzentado e neutralizante também foram utilizados. Era praticamente um experimento químico em busca de uma corzinha mais agradável.

Depois de tanta “mistureba”, foi preciso uma hidratação profunda, a final, a cabeleira era quimicamente tratada e destratada. Tratamento de choque, com queratina pura e tudo o que se tem direito e necessidade nestas horas. Para finalizar, uma escova. O surpreendente é que parece ter ficado bom. Pelo menos, a cabeleireira, a mãe e o marido gostaram. A dúvida é se estas opiniões servem como parâmetro. O visual vai permanecer, no mínimo, até o próximo capítulo de desespero com os cabelos.

Imagem: Creative Commons/Flickr: Terra Vermelha

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Bolsa de mulher


Uma amiga me falou que para ela, a bolsa era a peça mais importante do guarda-roupa. Na opinião dela esta não é só um acessório: “Primeiro escolho a bolsa, depois, decido o restante do look”. Ela afirmou se lembrar até hoje do dia em que adquiriu a sua primeira bolsa. Mesmo agora, após ter vários modelos, a número um da coleção, continua guardada, como uma relíquia.

Gosto muito das bolsas, apesar de meus maiores amores serem os sapatos. Entretanto, não penso que eles se rivalizem. Uma bela bolsa e um par de sapatos levantam o visual. Há quem prefira dar mais importância a um em detrimento do outro. Investir um pouco mais ao comprar a bolsa e economizar nos sapatos ou, o contrário.

Já li um livro sobre linguagem corporal que afirmava que a mulher é capaz de, por meio da bolsa, demonstrar seu interesse por um homem. A teoria era a seguinte: ao deixar o acessório próximo a um pretendente, a mulher estaria colocando ao alcance dele algo muito especial para ela, este ato seria uma demonstração de confiança e afinidade. Neste caso, a bolsa indicaria que ela está disposta a conhecer o escolhido de maneira mais íntima. A bolsa é interpretada como se fosse uma extensão da intimidade feminina. Se esta tática funciona, eu não sei.

De fato, a mulher leva o que considera importante dentro da bolsa. Muitas carregam nelas o que é útil, outras levam isto, e mais o que pode vir a ser, no caso de alguma emergência, “nunca se sabe o que vai acontecer, não é mesmo?!” Geralmente, é assim que a maioria se justifica. Eu já ouvi uma derivação desta justificativa, certa vez, uma conhecida me disse: “Agente sabe como o dia começa, nunca como ele termina. Por isto, eu sempre tenho na bolsa desde uma maquiagem básica até um sabonete íntimo”. Pelo menos, ninguém poderia chamar a moça de desprevenida.

Uma colega da minha mãe sempre sentencia: “É possível conhecer uma mulher pelo que ela traz na bolsa.” Acho isto um exagero. Não acredito que se possa conhecer uma pessoa tão facilmente, e nem tão pouco julgá-la pelos pertences que carrega junto consigo. Mas penso que algumas pistas sobre a personalidade de uma mulher podem sim, serem tiradas de sua bolsa. Os objetos que vão ali dentro e até mesmo o modelo desta falam um pouco sobre a dona.

Independente disto, as bolsas podem sim serem especiais em nossas vidas. Elas carregam histórias. Pode ser a que foi usada num encontro muito esperado, a que foi a um passeio inesquecível ou a primeira que foi comprada com o próprio dinheiro. A bolsa é um pedacinho do nosso mundo portátil que nos acompanha aonde vamos.

Imagem: Creative Commons/Google

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Quando uma mulher pedir socorro


Autoridades, quando uma mulher lhes pedir socorro, atendam. Pode ser a única chance que ela tem de salvar a própria vida.

Recentemente, um caso de violência contra mulher chocou o país. Uma cabeleireira foi morta com vários tiros disparados pelo ex-marido. Ela já havia pedido socorro, prestou queixas na delegacia contra ele. Mas, agora, esta mulher está morta. Foi mais uma vítima que não conseguiu ser protegida.

Muito se pede que a mulher denuncie as agressões sofridas, tão importante quanto isto, é que ela seja amparada quando resolver pedir ajuda. Não pode haver conivência com os agressores. A Lei Maria da Penha foi criada para evitar que isto ocorra. Ela pune com maior rigor a violência doméstica. Esta lei possibilita que o agressor tenha prisão preventiva decretada e também que seja preso em flagrante, extingue penas alternativas para estes casos e estabelece medidas que protegem a pessoa agredida.

O Brasil assistiu à mais uma história com final trágico. Assim como aconteceu com a jovem Eloá, novamente, um caso de violência contra a mulher deixa a sociedade estarrecida. Estes foram fatos que ganharam notoriedade na mídia, mas, muitos outros sequer são noticiados.

Todos os dias mulheres brasileiras são agredidas e assassinadas, covardemente, em suas casas e nas ruas. O grito de alerta destas vozes femininas precisa ser ouvido.

Imagem: Creative Commons/Flickr: nyki m

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Curso de maquiagem


Por ter me excedido um pouco nas comprinhas que fiz numa loja de cosméticos, ganhei de brinde um curso de maquiagem. O curso era apenas uma aula que seria dada na loja mesmo, depois do horário de funcionamento do comércio.

Cheguei uns quinze minutos mais cedo, como me foi aconselhado. Enquanto esperava, fiquei observando aquelas que seriam minhas colegas durante uma noite. Nossa turma seria bem diversificada, desde uma adolescente com visual punk até uma senhora distinta com, mais ou menos, uns sessenta anos de idade. Um clube da Luluzinha composto por doze mulheres ansiosas por conhecerem alguns segredos do universo da beleza.

As atendentes da loja ministrariam o curso. Elas nos levaram a uma sala onde havia diversas cadeiras e mesinhas, encima destas, espelhos e chumaços de algodão. Eu pensei que seria uma aula teórica para ensinar várias técnicas. Mas, pelo visto, era pior: eu teria que me maquiar na frente de todas. O primeiro passo era vencer a timidez.

Eu estava ali por dois motivos: aliviar o peso da consciência por ter comprado mais cosméticos do que havia planejado e tentar descobrir um fim prático para os que eu tinha em casa. Porém, eu já começava a pensar se, realmente, valeria a pena dedicar a noite de sexta-feira àquele curso.

No começo, foram explicados alguns cuidados básicos que se deve ter com a pele. Depois, nos ofereceram vários produtos e pediram nos maquiássemos de acordo as instruções que eram dadas. Eu acompanhei tudo, na medida da minha inexperiência e do meu nervosismo.

Conforme as alunas iam se “soltando”, perguntas como, “O que eu faço pra disfarçar minhas olheiras?”, “Como eu evito que o lápis borre?”, “Qual é o melhor truque para afinar o rosto”, dominaram o ambiente.

Uma das moças que davam o curso pediu para fazer uma maquiagem de demonstração nos meus olhos. Mal havia consentido, ela já estava com o lápis preto em punho esfregando-o na parte inferior dos meus olhos. Eu piscava desesperadamente. Ela disse que eu não precisar temer, pois não iria me machucar. Eu não sentia medo e sim, aflição. É difícil não piscar enquanto alguém mexe no seu olho. Mais uma provação pela qual o sexo feminino passa.

Maquiagem pronta, defeitos disfarçados, cores dos olhos e da boca bem vívidas. Eu mal reconheci a pessoa que vi no espelho.

Imagem: Creative Commons/Flickr: ferax

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Cirurgias plásticas estéticas: o que elas estão modificando


Já faz um tempo que eu tenho pensado em cirurgias plásticas estéticas. Não, eu não estou com planos de me submeter a uma. Pelo menos por enquanto, não. Mas, eu me pergunto quais motivos levam uma mulher a passar por tais procedimentos. A resposta mais evidente seria: porque ela quer ficar mais bonita e se sentir bem. De fato, ouvi uma explicação semelhante a esta quando perguntei isto à uma amiga que se submeteu à lipoaspiração e implantou silicone nos seios. Ela ainda acrescentou, de maneira bem enfática, que havia feito pela auto-estima.

Recentemente, duas notícias sobre cirurgias plásticas estéticas chamaram muito a minha atenção. A primeira, falava de uma musa do carnaval que não satisfeita em colocar silicone nos seios, resolveu dar a eles formato de “cones”. A segunda, tratava de uma britânica que passou por vários procedimentos cirúrgicos para realizar o sonho de ficar parecida com a personagem Jessica Rabbit. Estas duas histórias aguçaram ainda mais meus questionamentos sobre este assunto.

Será que ao decidir fazer uma intervenção cirúrgica, com fim, exclusivamente, estético, a mulher demonstra que é livre? Assim, ela seria detentora de uma liberdade que a permite, até mesmo, mudar seu corpo de acordo com sua vontade e vaidade. Ou, ao tomar esta decisão a mulher estaria subordinada ao mercado da beleza? Neste caso, seria a imposição dos padrões tidos como belos ao que nós temos de mais íntimo, nosso corpo.

Gostaria de acreditar que estas cirurgias plásticas modificam mais do que a estética ao proporcionarem às mulheres a oportunidade de adotarem uma postura de mais propriedade perante o próprio corpo e, por consequência, perante a vida. Mas, sinceramente, não tenho certeza de que é isto que está acontecendo. E vocês, o que pensam sobre isto tudo?

Imagem: Creative Commons/Google

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Zilda Arns


Levei um susto enorme quando soube que Zilda Arns havia morrido. Me dava um certo conforto saber da sua existência. Olhando para o trabalho desenvolvido por ela era mais fácil acreditar na humanidade. Cresci admirando esta mulher: uma avó com o semblante transbordando de generosidade, mas, também era firme.

No final do ano passado fiz um post sobre as mulheres que marcaram 2009 e, entre elas, incluí o nome desta grande brasileira. Zilda Arns: médica, sanitarista e uma humanista de grande relevância na nossa história. No início da década de 80, ela fundou a Pastoral da Criança para ajudar mulheres e crianças. Incentivou o aleitamento materno, combateu a desnutrição e a mortalidade infantil. Acreditava que a educação era o caminho para a paz. Assim, empenhou-se na causa da alfabetização. Os idosos também foram acolhidos em seus braços com a fundação da Pastoral da Pessoa Idosa. Foi indicada para o Prêmio Nobel da Paz, se tivesse ganhado, com certeza, seria por mérito. A obra desenvolvida por ela, com o apoio de incansáveis voluntários, extrapolou as fronteiras do Brasil. Esteve em diversas localidades, contribuiu para melhorar a vida de milhares de seres humanos.

Foi numa viagem ao Haiti, onde cumpriria sua missão de levar o bem, que ela faleceu, vítima de um terremoto que assolou este país.

Zilda Arns foi fundamental para toda a sociedade. Entretanto, acredito que para nós mulheres, ela teve uma importância a mais, porque ensinou mães a cuidarem de seus filhos. Tarefa nobre que devolve às mães dignidade e soberania. Ela, que sempre prezou pela liberdade, ensinava a ser livre. Agradeço o legado que Zilda Arns nos deixou.

Foto: Creative Commons/Google

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Base básica


Entrei na loja de cosméticos com um objetivo: comprar uma base básica. E bem objetiva: “Moça, vocês têm a base para pele morena clara nº 206?” O que eu não sabia é que a vendedora também tinha um objetivo: me vender produtos dos quais eu nem sabia que precisava. Com um enorme sorriso no rosto, ela partiu para o ataque: “Oi, querida! Como você se chama?” Respondi o cumprimento e disse meu nome. “No momento, nós não temos esta base em nossos em estoques. Mas, eu vou te mostrar um produto 2 em 1: base e pó compacto.” “É que eu só uso aquela...” “Então, vem cá para você ver outros lançamentos!” A moça me levou para um verdadeiro tour pela loja.

Fui apresentada a uma linha de maquiagem da qual acabei ficando com blush que afinaria meu rosto. Escolhi também um hidratante para pele oleosa, a amostra grátis que eu usava havia acabado. Eu que sempre usei batons marrons, conheci um tom de vermelho, para deixar minha boca com uma cor mais viva. Ah, mas este efeito eu só conseguiria se utilizasse um aplicador específico. Um clareador de manchas para rosto prometia operar na minha pele o milagre esperado por mim há anos. Entretanto, antes de usá-lo é necessário aplicar um tônico. Para me expor ao sol somente com um protetor solar de fator altíssimo. Experimentei também um perfume com aroma sensual, havia lido em uma revista voltada para o público feminino que ele era capaz de conquistar qualquer homem.

Na hora de pagar a conta, achei, encima da mesa do caixa, uma cestinha com produtos em promoção. Escolhi um creme para o corpo.

Tudo dentro da sacola. A vendedora já parecia até uma amiga de infância. Só faltou mesmo uma base para pele morena clara nº 206.


Imagem: Creative Commons/Flickr: autumn bliss

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Maternidade e carreira


Este ano começou com uma boa notícia para nós mulheres. A licença-maternidade de seis meses foi regulamentada e passou a vigorar no início de janeiro. As servidoras públicas federais já tinham este direito, agora, também serão beneficiadas as funcionárias de empresas privadas.

O aumento do tempo de duração da licença atende às recomendações médicas e, além disto, coincide com período que a OMS (Organização Mundial de Saúde) aconselha para a amamentação do bebê, seis meses.

Há quem diga, não sei se de brincadeira ou se realmente pensam assim, que na época da licença-maternidade a mulher fica à toa. Sinceramente, um recém-nascido precisa de muitos cuidados e de atenção. Nem se a mãe quisesse, ela conseguiria desfrutar do ócio. Certa vez, uma atriz declarou em entrevista que após dar à luz seu filho muitas pessoas a recriminavam por estar demorando a voltar ao trabalho. Ela respondia aos palpiteiros que se dedicava a uma grande tarefa: criar um filho para a sociedade.

A licença-maternidade é fundamental para a mãe fortalecer o vínculo afetivo com seu filho e se acostumar à nova fase de sua vida. Muitas mulheres têm várias incertezas neste momento. Acredito que isto é natural, pois a maternidade é uma grande mudança nas nossas existências.

Pelo que pude acompanhar da história de algumas mães, um fato em especial lhes causa bastantes incertezas e apreensão, o de ter que decidir qual rumo dar às suas carreiras após a gravidez.

Marlene, uma empresária que sempre se dedicou com afinco aos negócios, optou por diminuir o ritmo de trabalho para poder dar mais atenção ao seu filho. Ela passou a trabalhar apenas no período da tarde, horário em que a criança fica na escola. A opção dela foi facilitada pelo fato de seu marido ser também seu sócio. Atualmente, ele destina mais tempo à empresa.

Gilmara, era funcionária de uma empresa privada. Após o nascimento de sua filha, ela resolveu sair do seu emprego. Tornou-se artesã. Assim, não precisa obedecer a horários rígidos de trabalho. Consegue desempenhar os papéis de mãe e de dona de casa e, ao final do mês, ainda tem uma renda garantida.

Ronara, servidora pública, ainda está no período de licença-maternidade. Ela pretende retornar ao trabalho e dar continuidade a bem sucedida carreira na área de saúde. O fato de ter uma carga horária de trabalho e garantias trabalhistas bastante razoáveis irá beneficiá-la nesta decisão. Mas, seu principal aliado é o marido, ele dá um show no quesito paternidade.

Além de todos os outros benefícios que a licença-maternidade de seis meses trará para mães e filhos, ela também oferece um tempinho a mais de reflexão para as mulheres decidirem qual destino dar às suas vidas profissionais após a gravidez. Com isso, todos ganham, mães, filhos, pais, sociedade e, até mesmo, as empresas.


Imagem: Creative Commons/Flickr: Renato Souza

 
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