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Ela e outras mulheres


As mulheres segundo uma perspectiva masculina. É isto o que traz Ela e outras mulheres de Rubem Fonseca. A obra é composta de 27 contos breves. Exceto, Ela, que dá título ao livro, todos outros são intitulados com nomes próprios femininos. Começa com Alice, termina em Zezé.

Os contos têm a concisão e o ritmo peculiares da linguagem do autor. Às vezes, os enredos se desenrolam de maneira previsível, mas, o interesse se mantém mesmo assim, por causa da forma. O texto de Rubem Fonseca é sempre um prazer.

Marcantes elementos característicos da literatura do autor estão presentes na obra. Sexo, violência, vingança, obsessão costuram as tramas. Dignas do melhor estilo, as frases vão direto ao assunto e, por vezes, são curtas. Sem rodeios, sem eufemismos. As personagens são de uma sinceridade pungente.

A grande maioria dos contos são narrados por personagens masculinas. Os homens são também os protagonistas. Porém, são as personagens femininas que decidem os rumos das histórias. Os homens nunca têm o controle da situação, as mulheres sempre os surpreendem. Entretanto, a meu ver, isto não impede que em algumas passagens os relatos sejam, tipicamente, machistas.

Ela e outras mulheres cumpre seu papel: instiga, diverte e mantém o leitor apegado às páginas do livro até que ele termine. A ficção esboça o retrato da realidade, às vezes, com cores bem fortes.


FONSECA, Rubem. Ela e outras mulheres. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.

Imagem: Divulgação


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As Garotas do Calendário


Vi o filme As Garotas do Calendário e fiquei comovida com a narrativa. Para quem ainda não assistiu, faço um breve resumo para que entendam os motivos da minha comoção.

A película conta uma história de um grupo de amigas moradoras de uma cidadezinha do interior da Inglaterra. O marido de uma delas morre em decorrência de um câncer. Após acompanhar o esposo enquanto ele esteve hospitalizado, a mulher decide que o hospital precisa de um sofá mais confortável para acomodar os familiares dos pacientes. Com intuito de angariar fundos para doar o móvel à instituição a viúva e algumas amigas do Instituto de Mulheres decidem fazer um calendário ilustrado com fotos suas.

Num primeiro momento, parece um calendário tradicional no qual as mulheres serão fotografadas fazendo tarefas do cotidiano como, por exemplo, cuidar das plantas e preparar receitas. O que surpreende aos habitantes da pequena localidade é o fato de elas estarem nuas nas fotografias. Todas são mulheres de meia-idade e, supostamente, estariam transgredindo os valores morais e os costumes da sociedade local. O calendário é um sucesso. Ele transforma a vida das “modelos” e permite que elas ajudem várias instituições que cuidam de pessoas acometidas pelo câncer.

Vários aspectos me emocionaram neste filme. Primeiro: a maneira como ele retrata a amizade entre mulheres. Há quem diga que amizade verdadeira entre mulheres não existe. A narrativa dá mais um exemplo de que isto é balela. A amizade feminina existe sim e é capaz de muita lealdade.

Segundo: a forma como ele exalta a beleza da mulher na maturidade. Uma personagem faz um poema em que declara “o último estágio da flor é o mais glorioso”. É isto que elas revelam nas fotos do calendário. De forma singela e digna, artisticamente, ilustram as páginas com toda a beleza que têm.

Terceiro: o fato de as mulheres conseguirem se reinventar. Donas-de-casa que mantinham reclusas suas intimidades se permitem fotografar nuas. Elas encontram neste acontecimento motivação para se cuidarem no dia-a-dia. Fazer dietas, malhar, refletir sobre seus relacionamentos, são algumas das atitudes adotadas por elas. Assim, a auto-estima das pacatas senhoras vai às nuvens.

Quarto: além de modificarem para melhor suas próprias vidas, as mulheres conseguem transformar as vidas de outras pessoas. Elas fazem isto ao reverterem os recursos obtidos com a venda dos calendários para hospitais e projetos na área da saúde e, sobretudo, quando superam antigos limites e suplantam preconceitos.

Na realidade o filme traz muitas nuanças enriquecedoras. E o melhor de tudo é que foi inspirado em uma história real.


Imagem: Divulgação

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Cinco vezes Marta


A Marta é uma das personalidades brasileiras que mais me enchem de orgulho. Hoje, mais uma vez, ela nos proporciona uma imensa alegria. Marta foi eleita pela quinta vez consecutiva a melhor jogadora de futebol do mundo. A atleta superou as alemãs Fatmire Bajramaj e Birgit Prinz para conquistar a Bola de Ouro da FIFA. Marta reina absoluta.

Ver Marta jogando futebol é sempre emocionante. A maneira como ela se doa ao jogo dentro de campo é comovente. Impressionam as belas jogadas e os gols incríveis que ela faz. Porém, o futebol da camisa 10 não é só emoção e beleza, ele é também eficiência: Marta realizou 53 jogos pela seleção do Brasil e marcou 54 gols. Isto lhe dá uma excelente média de mais de um gol por partida.

Marta é um exemplo de que no futebol feminino brasileiro há talento. Às vezes, até sobra. O que faltam são mais investimentos e melhor gestão dos empresários que cuidam do esporte no Brasil.

Atualmente, Marta tem 24 anos de idade, portanto, terá ainda bastante tempo de carreira pela frente. Ela disse que ainda pretende ser a melhor do mundo novamente. Há grandes chances disto ocorrer. Recentemente, Aline, zagueira da seleção, declarou que acredita que Marta ganhe a Bola de Ouro sete vezes. Para isto, o desempenho do Brasil na Copa do Mundo que se realizará este ano será fundamental. As jogadoras brasileiras demonstram-se empenhadas em conseguir bons resultados para o time e cooperar com Marta. Agora só é preciso que os dirigentes trabalhem para oferecer à elas a infra-estrutura merecida.

Marta, muito obrigada por colocar o Brasil no topo do futebol mundial mais uma vez! Muito obrigada pelo exemplo!

Imagem: Creative Commons/Google

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Filha, mãe, avó e puta


Sincero. Foi o que eu conclui ao terminar de ler Filha, mãe, avó e puta. A autobiografia de Gabriela Leite revela como a autora decidiu ser prostituta. Ao ler o relato tem-se a impressão de que ela está sentada numa confortável poltrona lhe contando a trajetória de sua vida com uma sinceridade serena e, ao mesmo tempo, pungente.

O livro nos fala de uma menina nascida numa família conservadora que residia na Vila Mariana em São Paulo. Depois de crescida ela se tornou secretária numa grande empresa e estudante de filosofia na USP. Os pré-requisitos para ser mais uma filha da tradicional classe média estavam atendidos. Mas, era o final da década de 60, época de agitação cultural, e a menina resolveu ousar.

A ideia era experimentar na vida pessoal toda a liberdade e transgressão que se teorizavam nas conversas com os colegas intelectuais. Com esta motivação, Gabriela escolheu seu caminho.

A personagem freqüentou famosas zonas de prostituição como a Boca do Lixo e a Vila Mimosa. O enredo nos revela que para ser prostituta é preciso ter vocação e talento. Como em qualquer outra profissão. Outra realidade que a narrativa demonstra é que nesse meio também há amizade e gratidão. Como em qualquer outro ambiente.

A obra aborda o surgimento da ONG Davida e da grife Daspu. Passagens engraçadas e nomes conhecidos ajudam a compor a história. O livro retrata com naturalidade o mundo da prostituição que, por vezes, é encoberto por um manto de marginalidade e preconceito.



LEITE, Gabriela. Filha, mãe, avó e puta: A história de uma mulher que decidiu ser prostituta/Gabriela Leite em depoimento a Marcia Zanelatto. Rio de Janeiro:Objetiva, 2009.

Imgem: Daniela Fonseca


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Esperanças


No final do ano passado li uma reportagem que me deixou um pouco decepcionada. A matéria trazia uma lista das cem pessoas mais influentes do ano de 2010. Não concordei com a escolha de diversos nomes que figuravam na seleção, mas, o motivo da minha decepção nem foi esta divergência de opiniões. O que me causou frustração foi a pequena quantidade de mulheres entre os escolhidos, apenas 22. É muito pouco se considerarmos a participação da mulher no mercado de trabalho e a importância que, hoje, ela tem para a economia.

Por outro lado, o gênero feminino comemora um feito histórico: a eleição da primeira presidenta do Brasil. Dilma tomou posse. Já no dia desta cerimônia um fato simbólico chamou a atenção para reconfiguração do papel da mulher que esse momento inovador na sociedade brasileira pode significar: batedoras da Polícia Rodoviária Federal escoltaram o Rolls Royce que levava Dilma no desfile pela Esplanada dos Ministérios.

Que esses sejam apenas os primeiros exemplos de um novo governo. Que se inaugure uma nova era na qual a mulher não possa ter sua importância diminuída. Muitas transformações são necessárias para que isto aconteça. A mulher ainda recebe menos que o homem quando desempenha as mesmas funções que este, é vítima de violência doméstica e de vários outros preconceitos e discriminações. Porém, para quem não podia sequer votar e hoje tem uma presidenta, há que se ter esperanças. Esperança na mulher, esperança na sociedade, esperança na presidenta.

Imagem: Creative Commons/Google

 
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