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As mulheres que marcaram 2009


Resolvi fazer uma lista com as mulheres que marcaram 2009. Foi difícil escolher, muitas que ficaram de fora, com certeza, poderiam estar aqui. Isso é muito bom, sinal de que a ala feminina, mais uma vez, mostrou sua importância:

A- Ana Hickmann: assumiu a apresentação de um programa, o Tudo É Possível.

B- Beyoncé: o anúncio de que a cantora fará shows no Brasil no próximo ano agitou os fãs brasileiros.

C- Cristiane: a parceira de Marta. A coadjuvante que ajudou a estrela a brilhar na seleção brasileira e no Santos. Indicada ao prêmio FIFA de melhor jogadora de futebol do ano.

D- Dilma Roussef: enfrentou uma batalha contra o câncer e firmou seu nome como candidata às eleições presidenciais em 2010.

E- Eva Mendes: a atriz continua entre as mulheres mais sexies do mundo. Em 2010, vai estrelar outra campanha sensual da Calvin Klein.

F- Fernanda Lima: fez sucesso no comando de Amor e Sexo.

G- Glória Perez: autora da melhor novela do ano, Caminho das Índias.

H- Hillary Clinton: conseguiu se tornar secretária de Estado dos EUA.

I- Ivete Sangalo: deu à luz seu primeiro filho.

J- Juliana Paes: junto com Rodrigo Lombardi, interpretou o par romântico que conquistou o Brasil, Maya e Raj, de Caminho das Índias.

K- Kate Winslet: faturou a estatueta de melhor atriz no Oscar 2009.

L- Lady Gaga: grande fenômeno pop.

M- Marta: pela quarta vez consecutiva, ganhou o prêmio FIFA de melhor jogadora do mundo.

N- Nana Caymmi: por interpretar Não Se Esqueça de Mim, a música que mais me emocionou neste ano.

O- Oprah Winfrey: anunciou que o "The Oprah Winfrey Show" deixará de ser exibido em setembro de 2011.

P- Poliana Okymoto: campeã do circuito da Copa do Mundo de maratona aquática.

Q- Quero uma sugestão

R- Rihanna: foi agredida pelo namorado Chris Brown. Resolveu se afastar dele e dar exemplo para outras garotas.

S- Sarah Menezes: ganhadora do Prêmio Brasil Olímpico.

T- Taís Araújo: primeira protagonista negra de uma novela do horário nobre “global”.

U- Uma Thurman: interpretou uma mãe hilária e irritada na comédia Motherhood.

V- Viviane Senna: presidente do Instituto Ayrton Senna, realiza importante trabalho social.

W- Wanessa: causou polêmica ao tirar o Camargo do nome artístico.

X- Xuxa: sua participação no Twitter deu o que falar.

Y- Yoani Sánchez: a blogueira cubana segue na luta por liberdade de expressão.

Z- Zilda Arns: fundadora da Pastoral da Criança, uma das humanistas de maior relevância na atualidade.

Esta lista é baseada nos meus critérios, portanto, extremamente, subjetiva. E na sua lista, quem entraria?


Imagem: Creative Commons/Google

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Marta


Marta é a responsável por trazer para mim e para muitos brasileiros mais alegria neste finalzinho de ano. Ela ganhou, pela quarta vez consecutiva, o prêmio FIFA de melhor jogadora do mundo. É a recordista, antes, estavam empatados com ela Ronaldo, Zidane e Birgit Prinz, donos de três troféus cada um. Quatro troféus enfeitam a estante da casa de Marta. Mérito, puro mérito.

A melhor jogadora de futebol do mundo
encanta com as bola nos pés. Ao jogar pela seleção brasileira, seja no Maracanã ou em algum estádio olímpico, ela faz os torcedores presenciarem momentos da extrema magia no futebol. No Santos, último clube que defendeu, conquistou a Copa do Brasil e a Taça Libertadores da América. É comparada ao Pelé, muitos a chamam de “Pelé de saias”. Legal. Pelé é adjetivo que qualifica positivamente, mas, não precisa. Marta tem luz própria, brilha por si mesma, dispensa comparações.

A história de sucesso de Marta é incontestável, entretanto, acredito que a trajetória dela me comove por um motivo em especial: já fui jogadora de futebol. Um dia, eu tive o sonho de ser uma "Marta". Joguei durante um bom tempo, em times amadores. Profissionalismo ainda é raridade no mundo do futebol feminino. Eu adorava jogar bola, acima e apesar de tudo. Sei da
luta diária enfrentada pelas meninas que amam o futebol e têm nele a meta de suas vidas. O amadorismo que insiste em pairar neste ambiente ainda é o maior adversário delas.

Sempre que pode, Marta faz um
apelo pelo futebol feminino. Na cerimônia de entrega do prêmio FIFA, não foi diferente, mais uma vez, ela pediu que o país do futebol olhasse para suas meninas jogadoras. Está na hora de dirigentes de clubes, instituições e empresários ligados ao futebol retribuírem os presentes que Marta tem nos oferecido e atenderem seu pedido.

Eu agradeço o futebol de sonhos que ela realiza. Obrigada, Marta.


Imagem: Creative Commons/Google

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As mulheres de Avatar


Ontem, meu dia começou com uma grande decepção e terminou com uma esperança.

Li um texto que me deixou revoltada. Este falava do relacionamento entre
homens e mulheres. Começava por afirmar que todos os homens são infiéis. Justificava este comportamento dizendo que as “puladas de cerca”, junto com a realização profissional, são os motivos de satisfação pessoal da ala masculina. Segundo ele, nós encontramos a alegria com a maternidade e com um lar feliz. Devemos nos contentar se tivermos um marido provedor, uma família feliz e, quem sabe, até um emprego para "quebrar" a rotina. Na opinião de quem amontoou este punhado de assertivas machistas, a principal atitude para conseguirmos este “ideal de felicidade” é fazer vistas grossas às traições dos homens. Aceitar isto como parte da natureza.

Fiquei curiosa para saber em que século está a mentalidade do organizador deste monte de “pérolas” do comportamento humano. Entretanto, numa rápida reflexão, conclui que as mulheres
nunca foram tão submissas. Me fizeram pensar assim, exemplos como, Maria Madalena, Helena de Tróia, Joana d’Arc, Marilyn Monroe e, tantas outras, que não tiveram os nomes glorificados, mas, fizeram parte da história.

De tão incomodada com este texto, decide pedir opinião sobre ele ao sexo oposto. Minha cobaia leu atentamente o desencadeador da minha angústia, riu de alguns trechos e, ao final, sentenciou: “
não concordo com nada do que está escrito aqui”. Respirei aliviada. Nem os homens aceitam mais serem vistos como um bando de insensíveis que só pensam em dinheiro, poder e sexo.

À noite, fui ao cinema assistir ao filme “Avatar”. Impressionante! Cenário, fotografia, muito bons. Tudo o que já foi comentado por . Entretanto, o que chamou mais minha atenção foram as mulheres de Avatar. Uma cientista, uma aviadora e uma humanóide. A cientista é quem descobre o segredo que rege o mundo de Pandora, onde o enredo é ambientado, a aviadora pilota o avião no qual os bonzinhos fogem dos maus, a humanóide salva a vida do mocinho, seu par romântico, duas vezes. Assim, o sexo feminino decide o rumo da narrativa.

O que acontece em Avatar, não difere do
cotidiano da vida real. Mulheres estudam, trabalham, são chefes de famílias e de empresas, escolhem seus companheiros, enfim, definem suas próprias histórias.

O cenário descrito pelo autor do texto machista é, gradualmente, restrito ao imaginário de algumas mentes retrógradas. Porém, não posso ser ingênua o suficiente para pensar que as mulheres têm o reconhecimento semelhante ao de Avatar. Mas, dá para sonhar e tentar
conquistar, no dia-a-dia, o mundo. O mundo de Pandora.

Imagem: Creative Commons/Flickr: Torley

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Sapatos: nossos amores


Li uma reportagem que falava de uma pesquisa sobre a relação das mulheres com os sapatos. Dois dados que ela trazia me chamaram mais a atenção.

A primeira conclusão da pesquisa era que o
primeiro par de sapatos que as mulheres compram com o próprio dinheiro marca mais a vida delas do que o primeiro beijo. Se eu tivesse feito parte da amostra da pesquisa, neste quesito, estaria entre a minoria das mulheres.

Tudo bem, concordo que comprar o primeiro par de sapatos é um feito importante nas nossas humildes existências. Mulheres sonham com sapatos. Para nós, eles são verdadeiros
objetos de desejos. Na ficção, isto é muito bem representado por Carrie Bradshaw, da série “Sex and the City”. A loira ama seus pisantes e faz o que for preciso por um Manolo Blahnik. Considero também que para as mulheres abordadas pelos pesquisadores pesou o fato delas terem comprado os sapatos com os seus recursos. Isso é bom, muito bom, quem já experimentou sabe, independência financeira. Poder comprar o que sonha.

Mas, insisto, estaria entre a minoria. Alguém poderia alegar: “Isso é legal. As mulheres estão comparando os homens aos objetos e, preferindo estes”. Penso que não, o primeiro beijo está relacionado a
sentimento. Então, estaríamos coisificando nossos sentimentos. Isto não é benéfico para ninguém. E olha que meu primeiro beijo foi ... normal. Com gosto de saliva. Talvez, esta minha opinião advenha do resquício de romantismo que sobrou em minha personalidade.

O outro fato constatado pela pesquisa é que a grande maioria das entrevistadas se arrependem de terem jogado fora algum par de sapatos, enquanto, apenas uma pequena parcela se arrepende de ter terminado algum relacionamento.

Este dado eu adorei. Identifiquei-me, completamente. Num belo domingo de sol, eu estava terminando de me arrumar para ir a um churrasco e cismei de calçar um determinado par de sandálias. Elas combinariam com a roupa que eu vestia, eram confortáveis, ideais para serem usadas durante o dia. Revirei a casa toda, não encontrava as benditas. Então, me lembrei que, num dia infeliz, decide jogá-las fora. Não gosto de acumular vários pares, mas, depois disto, penso duas vezes antes de eliminar algum.

Também gostei desta constatação porque ela demonstra que as mulheres estão decididas. Se for para pôr a fila pra andar, põem sem remorsos. Deixemos nossas lágrimas para algum par de sapatos exclusivo que se encaixavam, perfeitamente, nos
nossos pezinhos e nas nossas vidas, mas, que o tempo e o uso foram cruéis, o suficiente, para levá-los de nós.

Imagem: Creative Commons/Google

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As mulheres e a espera


Acabei de reler “Colheita”, Nélida Piñon. Esta obra fala de uma linda história de amor. Semelhante aos contos de fadas, o casal de personagens principais vive um romance de sonhos. Porém, num certo momento da narrativa, o mocinho deixa sua amada para aventurar-se pelo mundo. Ela recolhe-se em casa e espera que ele retorne. Durante o tempo que passa e reclusa, ela cria um mundo próprio dentro de seu lar. A “Colheita” e o fragmento de vida de uma faxineira que pude acompanhar de ouvido me fizeram pensar nas mulheres que vivem a esperar por seus homens. Revirei o baú da minha memória e me lembrei de várias delas, jovens cheias de sonhos ou idosas resignadas, entretanto, companheiras na nobre arte de esperar.

Viviane, uma amiga minha, casou-se ansiosa para viver uma “vida de mulher casada”, como havia sonhado desde a infância. Teve o sonho interrompido. O marido, no segundo mês de casamento, teve que viajar a trabalho para o exterior. Ela voltou para a casa de seus pais e esperou, passados quase dois anos, ele retornou. Viviane retomou seu sonho como se nada tivesse acontecido.

Minha avó viveu uma “vida de mulher casada” durante longos anos. Meu avô faleceu. Ela não titubeou, passou a usar a aliança que foi dele junto à sua no dedo anelar. Toda vez que perguntávamos: “Vó, porque a senhora usa duas alianças no dedo?”. Ela respondia altiva: “É assim que as viúvas fazem, meus queridos.” Ela nunca teve outro companheiro. Acredito que ela espera reencontrar meu avô um dia.

Uma amiga de uma amiga minha, de quem eu, definitivamente, não me lembro o nome, se apaixonou por um homem lindo, sensível e homossexual. Ela espera que ele lhe faça um pedido de namoro e se case com ela. Amores platônicos também resistem ao tempo.

Cresci ouvindo o caso de Dona Ruth. Ela era casada com um boiadeiro que foi levar uma boiada para uma fazenda bem distante e nunca mais voltou. Toda vez que Dona Ruth escutava um tropel de cavalos ao longe, vestia um vestido branco rendado, colocava uma flor de laranjeira nos cabelos e corria para a janela. Porque era assim que as moças do interior faziam quando chegava uma comitiva de boiadeiros.

Existem histórias e mais histórias de mulheres que esperam por homens que foram para a guerra. As portuguesas até contribuíram para encher e salgar o mar de tanto que choraram à espera dos patrícios.

Esperar. Esperar um homem buscá-la no emprego, esperar por um futuro namorado, esperar o marido retornar ao lar, esperar o amado regressar vivo da guerra, esperar por homem que já morreu. Viver de esperança, não importa em que. Eu penso que só as mulheres conseguem esperar. Porque só elas sabem, enquanto esperam, criar um mundo seu, mais rico do que o exterior.


Imagem: Creative Commons/Flickr: Sheila Tostes

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Faxineira


A faxineira. Assim, sem nome, não porque eu goste de chamar as personagens pela profissão que elas têm, mas, porque eu não sei o nome dela. Não sei seu nome e não poderia inventar um. Esta faxineira existe. Eu acompanhei um fragmento de sua vida. Ouvi sua voz, não vi seu rosto. Portanto, ela já tem um nome. Eu só não sei qual é. Não poderia dar-lhe um nome como faria a uma personagem qualquer. Não posso rebatizar alguém.

Lá no prédio, é possível ouvir quase tudo que acontece em todos os andares, em todos os apartamentos. Eu estava ao computador gastando o tempo quando ouvi uma
voz. Era estranha. Não era de nenhum morador do prédio. Só se alguém tivesse se mudado no dia anterior e fosse a primeira vez que eu ouvisse a sua voz. À esta altura, eu já tinha certeza de que não era voz de vizinho. Acompanhei de ouvido a conversa. A mulher falava ao telefone. Perguntava nervosa a quem estava do outro lado da linha se a pessoa sabia onde ele estava. Afirmava que havia terminado seu serviço e esperava há muito tempo para que ele viesse buscá-la. Conclui: era a faxineira. Ela ligou para mais três pessoas à procura deste homem. Depois, os “bips-bips” que as teclas do celular emitiam ao serem pressionadas pararam, a voz desesperada calou-se. Ela se entregou resignada à espera. A faxineira trabalha para ganhar o próprio dinheiro, mas, espera um homem vir buscá-la.

Passado algum tempo, ouvi o barulho de uma moto estacionar enfrente ao prédio. Lá, também dá para ouvir todos os veículos que passam na rua. Da janela pude ver. Era o homem tão esperado. A faxineira reclamou um pouco da demora. Ajeitou rodo, balde e vassoura. Tentei ver seu rosto, o capacete impediu. Subiu encima da moto. Partiram. Eu os observei até dobrarem à esquina.

Imagem: Creative Commons/Flickr: Tiago Zaniratti's

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Sílvia


Sílvia era professora universitária. Lecionava no curso de Artes Plásticas. Gostava de arte. Mas, preferia a teoria à prática. Também, já havia tentado pintar e escrever poesias: nunca passou da fase dos esboços. Convencida de que era melhor estudar a vida e a obra dos artistas geniais do que tentar ser um deles, mudou o rumo de sua vida. Queria se tornar uma renomada acadêmica. Leu pilhas de livros, colecionou diplomas e viajou o mundo para conhecer de perto as grandes obras.

Sílvia vivia sozinha, era uma mulher independente. Tinha um passarinho de estimação, mas este relacionamento, não causava dependência. Podia abrir a porta da gaiola a qualquer momento.

O seu trabalho na universidade ia, monotonamente, bem. Era chamada, respeitosamente, de doutora por alunos e colegas, tinha conseguido publicar alguns artigos e, neste ano, ia se apresentar em mais um congresso na Europa. Se não era pra soltar fogos de artifício, também não dava pra reclamar. Imbuída deste espírito de compaixão por si mesma, foi tomar um cafezinho. Sentou-se na única mesa vaga. Assim que se acomodou, um homem com cheiro de estrume e sotaque interiorano pediu para se sentar ao seu lado. Com um meneio de cabeça, ela consentiu. O estranho fazia pós-doutorado em inseminação artificial de bovinos. Depois do cafezinho e de algumas noites juntos, ele fez a clássica pergunta: “Quer se casar comigo?”. Com um meneio de cabeça, ela consentiu.

Apesar de ter respondido como quem responde a uma pergunta trivial, ela estava radiante. Ao ouvir o pedido de casamento, Sílvia se deu conta do quanto queria abandonar a universidade, deixar todas as teorias no passado.

Quando o noivo criador de gados terminasse seu curso, ele voltaria para sua fazenda no interior do Paraná. Após se casarem, Sílvia moraria na propriedade dele. Para ela, que já havia morado em Paris, Nova York e São Paulo, este não seria um desafio insuperável.

No dia de dizer “sim”, a sede da fazenda, local escolhido para a cerimônia, estava linda. Decoração, bebida e comida de ótima qualidade. Os convidados eram fazendeiros dos quais ela sequer sabia os nomes. Tudo transcorria tranquilamente. Atormentada, estava Sílvia. Uma voz dentro de seu cérebro a perguntava se ela concordava com o “bricoleur” de Lévi-Strauss. Aquilo a desesperava, já havia sofrido tanto com este questionamento. Ela podia até refletir mais sobre este assunto, adotar um posicionamento menos conservador em relação à arte, mas, não agora. Não no dia de seu casamento.

A caminho do altar a voz não a deu sossego. “Você concorda com o “bricoleur” de Lévi-Strauss?”, “Você concorda com o “bricoleur” de Lévi-Strauss?”... A cerimônia transcorria e a voz interior continuava a assombrá-la. Bem na instante de responder se aceitava o criador de gados como esposo, ela gritou: “Não! Eu não concordo!”. O murmúrio dos convidados a trouxe à realidade. Viu o rosto atônito do noivo e tentou se explicar: “Eu estava falando do “bricoleur” de Lévi-Strauss”. Ele fez uma cara de quem não entendia nada. “Quando eu quis te explicar o “bricoleur” de Lévi-Strauss você não me deu atenção.” Esta foi a única frase que ela conseguiu dizer antes de partir.

Hoje, Sílvia mora num quarto e sala, que pode ser em Paris, Nova York, São Paulo, interior do Paraná ou em qualquer lugar do mundo onde alguém possa conviver em paz com o “bricoleur” de Lévi-Strauss.


Imagem: Creative Commons/Flickr: Wolfgang Staudt

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Sinal vermelho


Ela não consegue tirar carteira de habilitação. E olha que já tentou bastante.

No começo estava com a
confiança nas alturas. Avaliação psicológica: “aprovada”. Munida com o atestado de sua sanidade mental, foi procurar uma auto-escola. Rodou pela cidade pela, a pé, como já estava farta de fazer, encontrou uma que a agradou ou, pelo menos, agradou às pernas dela, exaustas de tanto andar. Preço em conta, atendimento razoável: “será esta que vai me transportar do mundo dos pedestres para o dos motoristas”.

A Legislação foi tranquila. A única aula que a deixou um pouco tensa foi a de noções de primeiros socorros: “tomara que nunca precise do que aprendi hoje”. A prova de Legislação valia trinta pontos. Vinte e um eram o mínino para a aprovação. Errou três questões. Ficou com vinte e sete. Agora, era,
a direção.

Primeiro dia de aula. O instrutor apresentou-lhe o carro. Modelo popular, motor 1.0, fácil de ser domado, não assusta os iniciantes e mata os mais experientes de raiva. Entrou no veículo, sentou no banco do motorista e girou a chave na ignição. O painel que se ascendeu a sua frente, mais parecia um céu em dia de noite estrelada, de tantas luzinhas. “Mulher não tem senso de direção”, “mulher confunde a direita com a esquerda e vice-versa”, “mulher não tem noção de espaço”, “mulher ao volante, é um perigo constante!”, todas estas expressões machista que lhe vieram à cabeça naquele instante e mais todos os pontinhos brilhantes do painel lhe fizeram sentir medo. Mas,
não hesitou. As duas mãos, bem firmes, seguravam o volante no momento da partida. Terminada a aula, desceu do carro com as pernas bambas. “Também não era pra menos, freio, embreagem e acelerador, três pedais para serem controlados por uma bípede, não faz o menor sentido!”. A sensação era a mesma de quando terminou a primeira e única aula de aeróbica que fez na vida, pela segunda vez, havia descoberto que não tinha coordenação motora e, estava exausta. “Será que dirigir é mais cansativo do que caminhar? Não é possível! Deve ser por causa do meu nervosismo.”

Quando lhe indagavam se estava achando difícil dirigir ela respondia: “dirigir é fácil, o difícil é coordenar todos os pedais, olhar pelo retrovisor, prestar atenção ao painel, ver o quê vem pela frente, tudo ao mesmo tempo!”. As aulas transcorriam e ela continuava se esquecendo de dar seta, estacionando a um metro do meio-fio e dirigindo sem sequer se lembrar da existência do retrovisor. Um sujeito mal humorado, que foi o examinador do seu teste de direção, deu a sentença já esperada: “reprovada”.

Convencida de que o problema era com a quantidade de rodas e não com ela, resolveu tirar a carteira de habilitação para motocicletas. “Com duas rodas há de ser mais fácil”.
Não foi. Além de pilotar, era preciso se equilibrar para não despencar de cima da moto. A prova de direção era avaliada não por um examinador mal humorado, mas, por cinco, um para cada trecho do percurso a ser cumprido. Aumentadas as dificuldades, decidiu convocar o apoio familiar. Levava o pai, a mãe e o namorado sempre que ia fazer os testes. Sim, no plural, porque ela fez três exames de direção para motos. Após tantas reprovações, desenvolveu uma tese: “é mais fácil eu conseguir ser aprovada no vestibular de uma universidade federal do que numa prova de direção”. Foi o que aconteceu.

Agora que vai passar as férias na sua cidade, ela
tentará novamente. Só falta decidir se a aventura será com carro ou moto.

Imagem: Creative Commons/Flickr: Daquella manera

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Sem segmentar e sem padronizar



Estudando para uma disciplina na faculdade, encontrei uma explicação “teórica” para a proposta que decide adotar quando crie este blog: publicar conteúdos relacionados ao cotidiano feminino, porém, direcionado tanto para as mulheres quanto para os homens que se interessam pelo nosso universo. Então, aí vai, resumidamente, o quê pensei depois das leituras que fiz.

A
cultura de uma sociedade pode ser definida por seus padrões de consumo. A cultura de massa, típica das sociedades pós-industriais, é aquela na qual as empresas oferecem produtos padronizados aos clientes. Segundo Maria Celeste Mira, as mercadorias eram voltadas para o consumo da família, ou seja, a televisão, o carro, a geladeira, e outros tantos produtos, são pensados para a unidade familiar. Nos países desenvolvidos, este tipo de estratégia vigorou, principalmente, após o nazismo.

No período que se estende desde a década de 50 até a de 80, considerado pelos historiadores como os anos dourados, a economia dos países desenvolvidos apresenta um surto de crescimento e mudanças socioculturais são implementadas. Nos anos 50 e 60 se desenvolve uma nova forma de consumo, baseada na
segmentação. Esta pressupõe que a sociedade está divida em diferentes frações de consumidores, por exemplo, homens, mulheres, jovens, homossexuais, negros. Algumas destas parcelas da sociedade ganharam visibilidade com os movimentos sociais que ocorreram durante os anos dourados, como o movimento feminista, a contracultura e o Black Power. Pessoas tão distintas teriam desejos diversos a serem realizados. É nisto que os agentes do mercado estão interessados, não só o mercado de bens materiais, mas também o de bens simbólicos.

Nesse sentido, é que atua a
mídia ao formar opiniões e ditar tendências de comportamento. De acordo com o novo espírito dos mercados, ela também segmentou-se: há impressos direcionados a determinados setores sociais, o rádio explora seu poder de “falar direto ao ouvinte”, a televisão, com canais pagos, disponibiliza conteúdos segmentados em horários específicos e a internet permite que o próprio usuário configure sua página de informações.

As publicações idealizam quem irá receber suas mensagens, por exemplo, mulher, classe C, casada e mãe e, a partir deste perfil produzem seus conteúdos. Entretanto, numa sociedade pós-moderna,
“pós-tudo!”, que já passou por diversas revoluções socioculturais, o público se torna cada vez mais complexo e difícil de ser enquadrado em categorias estanques como estas.

Homens podem gostar de cozinhar e quererem ler revistas que publiquem receitas culinárias, mulheres executivas se interessarem por oportunidades de negócios e podem procurar publicações que trazem informações sobre isto. Nesse contexto, exemplos como o ocorrido no conto “Corações Solitários”, Rubem Fonseca, no qual uma pesquisa revela que um jornal direcionado para
mulheres da classe C era, na realidade, lido por homens da classe B, podem se tornar comuns.
Daí minha proposta: sem segmentar e sem padronizar. Tudo
“pós-misturado!”.

Imagem: Creative Commons/Flickr: Rodrigo Favera

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Características: as femininas e as masculinas



O título acima está equivocado deveria ser: características humanas. Não entendo o motivo de separá-las como femininas e masculinas. Por exemplo, é uma peculiaridade das mulheres serem emotivas, inseguras, zelosas com a família. Já os homens são: decididos, competitivos, arrojados. Quem nunca viu reportagens do tipo “executivas bem sucedidas agem no ambiente profissional da mesma forma que os homens” e, logo adiante, descrevê-las com estes adjetivos. Outra ideia difundia é a de que bons maridos são homens atentos ao lar, o que seria maneira de portar-se típica das mulheres. As boas profissionais não estão agindo como homens, e nem os esposos ideais, como mulheres. Estão simplesmente, em consonância com suas personalidades. Homens podem ser doces, sensíveis, gentis. E as mulheres, agressivas, dominadoras, racionais. Estas, e mais um monte de outras qualidades humanas. Demasiado, humanas, como já dizia Nietzsche.

Homens e mulheres podem apresentar um pouco de cada uma destas características, independentemente do sexo. Há quem alegue que a razão para dividir as características esteja na evolução. Homens eram caçadores e as mulheres cuidavam do lar, assim, para sobreviverem desenvolviam os tais comportamentos masculinos e femininos. Acredito que para obter sucesso na saga evolutiva, ou seja, garantir suas próprias sobrevivências e de seus descendentes, ambos tiveram, em alguns momentos, que adotar as características femininas e as masculinas,
indistintamente.

Há duas causas para eu estar falando desse assunto. Primeira, essa separação entre as características sempre me incomodou. Segunda, eu li uma reportagem que tratava de uma pesquisa científica que demonstrava: o cérebro do homem pode ter traços femininos e o da mulher, masculinos. Esta matéria jornalística traz também um teste para você descobrir como o seu cérebro funciona. Só para constar, fiz o teste, o resultado foi que o meu é tipo misto. Aliás, este é o resultado mais recorrente. Lógico, não existe distinção rígida entre o, tipicamente, masculino e o feminino.

Atualmente, esse sectarismo não faz o menor sentido, pois os papéis sociais estão mesclados,
complementando-se. Melhor assim, a brincadeira da existência humana fica bem mais divertida.

Imagem: Creative Commons/Google

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Viva os quarenta!


“Uma mega festa! Quero comemorar a chegada dos meus quarenta anos em grande estilo! Pra isto, nada melhor do que uma festa como eu nunca tive antes na minha vida! Vai ser um brilho!” Esta era minha cabeleireira esfuziante com a proximidade da data em que ficaria mais velha. O convite da festa de seu aniversário já denunciava esta alegria. Ele era ilustrado com uma foto dela ostentando o típico sorriso largo e uma frase em letras garrafais que dizia: Enta! Enta! Enta! Cheguei aos meus quarenta!

No dia do tão esperado acontecimento, o sonho tornou-se realidade. O salão enfeitado à maneira que ela queria, o topo do bolo decorado com uma bonequinha que segurava nas mãos um secador de cabelos e as músicas que ela gosta de ouvir e de cantar tocando a pleno vapor.

Após um pouco de suspense, ela apareceu majestosa para brilhar na sua noite mágica. Mal entrou no salão e foi rodeada de amigos e familiares. A música que tocava parou e um de seus filhos cantou em sua homenagem. Um pequeno documentário de sua vida foi exibido. Na tela do cinema improvisado se alternavam: os pais, os irmãos, os filhos, o casamento, os amigos, a profissão. O resumo de uma trajetória passou diante dos olhos emocionados de quem assistia. Enganei-me, não era o dia de oficializar que ela havia envelhecido mais um ano, ao contrário, rejuvenescia.

Sempre pensei que os quarenta anos é uma idade enigmática. Está bem longe da velhice, mas, também já se distanciou da juventude. Não estou só nestas inquietações. Já houve música que entoou no refrão: "a vida começa aos quarenta!". Filmes também já retrataram esta fase conturbada da existência do ser humano, principalmente, se este for uma mulher. O roteiro de um que assisti certa vez, tratava de quatro amigas que já tinham entrado na quarta década de vida e queriam fazer uma peça teatral para falar de suas vivências como quarentonas. Porém, o diretor delas dizia que não teria a menor graça porque mulheres de quarenta não confessam nada.

Será que mulheres desta idade ainda têm algo a confessar? São, suficientemente, donas de seus erros e acertos. Mulheres de quarenta são mais loucas do que as de vinte e as de trinta? Dizem que aos vinte anos as mulheres sabem por quê sofrem, aos quarenta, não. Acredito que nós mulheres, seja lá qual for a idade, não precisamos de motivos exatos para chorar.

Depois da
festa de aniversário da minha cabeleireira, fui dormir com menos medo dos quarenta anos. Sim, já penso neles há algum tempo, pois, já passei da metade do caminho. Espero que quando eles chegarem eu também tenha vontade de festejar muito.


Imagem: Creative Commons/Flickr: Peti Deuxmont

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Lista de "cornos" e o cotidiano dos relacionamentos


Uma lista divulgada pela internet com nomes de homens que, supostamente, teriam sido traídos por suas companheiras causou alvoroço numa cidade pequena do interior mineiro. A mim, não interessa saber quais pessoas estão nessa lista e nem botar mais lenha na fogueira desse boato.

O fato só despertou a minha atenção por me fazer pensar um pouco mais em duas questões que me afligem já há algum tempo: a primeira, será verdade que os homens se preocupam mais com a publicidade de uma traição do que com a própria traição ? A outra é, as pessoas não se preocupam mais com os seus relacionamentos ?

Sei que estes questionamentos poderiam render teses e mais teses acadêmicas, mas vou deixar apenas minha simples e singela contribuição, sem pretender dar lição de moral em ninguém, até mesmo porque não gosto disso e sequer creio que funcione e, principalmente, porque em matéria de relacionamento, cada um sabe do seu, encontra o seu jeito de dar certo e, se não der, parte pra outro ou, fica sozinho.

Não acredito que um casamento, namoro ou qualquer relacionamento amoroso, se deteriore de repente. Sempre há pistas que deixam transparecer que alguma coisa está errada. Não, não estou me referindo a marcas de batom, cheiro de perfume diferente ou bilhete de motel. Estas são as evidentes, que só aparecem depois do fato consumado, digo, traição consumada. Falo, de olhares distantes, perguntas sem respostas ou com respostas evasivas, dores de cabeça sempre ao ir se deitar, dentre outros indícios. Se as pessoas prestassem mais atenção a quem têm ao seu lado, se os homens percebessem quando as mulheres cortam o cabelo e se as mulheres soubessem qual o cargo que o companheiro ocupa na empresa na qual trabalha, por exemplo, talvez esses indícios fossem percebidos a tempo de tentar salvar o relacionamento ou, sair dele com dignidade.

O individualismo é tanto que é preciso uma lista na internet, vinda não sabe de onde e nem baseada em quê para chamar a atenção das pessoas para o que ocorre dentro de suas casas?


Imagem: Google/ Creative Commons

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Vestido Vermelho




Ao receber o convite para o casamento de seu melhor amigo decidiu ir bem bonita à cerimônia. Era uma data importante, não é todo dia que se casa um amigo de infância. Então, iria pra arrasar! A primeira providência a ser tomada era comprar um vestido. Sim, pois os que estavam em seu guarda-roupa eram de uma, duas, ou sei lá, de quantas coleções passadas. Além do mais, nem sabia se ainda entraria em algum deles, ultimamente, o ponteiro da balança não tem se mostrado muito simpático com ela. Pensou em vestido, pensou vermelho. Não pode ser de outra cor, tem que ser vermelho. Vestidos vermelhos estão nas capas das revistas de moda mais famosas do país, ela havia visto a Sarah Jessica Parker vestida com um vestido vermelho na foto de uma reportagem que falava das preparações para “Sex and the City 2” , e, o mais importante, há muito tempo sonhava em vestir-se com essa cor, agora, que sua auto-estima estava nas nuvens, era o momento certo. Afinal, ninguém veste vermelho impunemente.

No mesmo dia em que foi convidada para o casamento, idealizou o vestido, a sandália e os acessórios que comporiam seu visual no grande dia, porém, o trabalho, a faculdade e os afazeres do lar desviaram sua atenção. De repente, se deu conta de que já estava às vésperas do dia da cerimônia. Ia precisar comprar tudo no dia seguinte, um sábado, pois, na próxima semana, viajaria a trabalho e, só retornaria no dia do casório. Nos sábados, o comércio de sua cidade fechava no horário do almoço e, por isso, as lojas ficavam uma confusão: apinhadas de clientes e com os vendedores loucos para descansar depois de uma semana inteira de serviço. Mas, imbuída de muita coragem e força de vontade, partiu para a maratona de compras. Era o jeito, fazer o quê?

Compras realizadas. Chegou em casa e resolveu vestir o vestido novamente. Lá na loja, já havia experimentado ele e ficado com a leve impressão de que o decote estava torto e tinha decidido retirar os broches que enfeitavam as alças. Porém, para ter uma segunda opinião, nada como vestir a roupa nova na tranqüilidade do lar. Percebeu que o decote era muito torto, os broches eram, realmente, horríveis, sua silhueta parecia aumentar assustadoramente e uma faixa que passava um pouco acima de sua cintura diminuía-lhe a estatura. E, o pior, o vestido era vinho! Ela pensou que se acostumaria, contentaria com aquilo mesmo. Afinal, o vestidinho tinha sido bem barato, custado menos do que ela pensava em gastar. E, o fato dela ter que viajar e só voltar na data do casamento, não lhe dava outra opção. Até que um telefonema no meio da tarde deu a bela notícia: a viagem havia sido adiada. As esperanças de ficar linda na cerimônia voltaram.

Na segunda-feira, foi em busca do vestido vermelho. Depois de entrar em várias lojas, terminou na sua preferida. No fatídico sábado, não havia sobrado tempo para procurar ali, logo a sua preferida. Depois de experimentar vários vestidos, entre eles, um rosa que a deixou com cara de criança, um que era lindo, mas custava três vezes a quantia que podia gastar e um que a transformou num verdadeiro repolho, finalmente, encontrou o de seus sonhos. Vermelho, decotado, comprimento à altura dos joelhos. Saiu da loja carregando a sacola como se fosse um prêmio. E, realmente, era. Ali dentro, não estava apenas um vestido, mas sim, um objeto de desejo e, acima de tudo, a certeza de que nunca mais se contentaria com menos do que havia sonhado.


Imagem: Flickr/Creative Commons: Pasadena Burbank

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Grávida !


“Estou grávida!” esta foi a frase que me tirou o chão. Quem a disse foi minha melhor amiga. Amiga, amiga de verdade, daquelas de infância. Eu e ela crescemos juntas. Aprendemos a andar de bicicleta. Ralamos o joelho. Tomamos o primeiro porre. Descobrimos os garotos, "paixonites" de adolescente, causadoras das primeiras decepções amorosas. Cantamos música de dor de cotovelo. É que primeiro amor só serve mesmo para ser o primeiro.

Superada essa fase, chegou a nossa hora de passarmos para o time das casadas. Primeiro ela, alguns meses depois, foi a minha vez de trocar de estado civil. Sim, ela foi madrinha do meu casamento. E eu, do dela. E agora, essa notícia de gravidez.

Fiquei feliz, muito, e, surpresa também. Eu sempre pensei que a maternidade significa amadurecimento. Ficar adulta. Muito mais do que com o casamento. A responsabilidade é muito maior. E, de repente, minha amiga vai ser mãe. Nós, que vivíamos em companhia uma da outra, unidas. Era como se fosse comigo. Um filho é a mudança de geração. Passar o bastão, como dizem os mais velhos. É, ao mesmo tempo, uma pequena morte e um grande renascimento, ensinar à uma pessoa o que você aprendeu ao longo da vida para que ela dê continuidade à sua espécie na Terra. Por tudo isso, é um ato de generosidade suprema. Vem com a certeza de que os anos se passaram. Criar uma criança é ver o tempo passar bem diante de nossos olhos.

Eu me descobri mais velha com essa notícia, não sei se mais madura, não sei se madura o suficiente para ter também meu próprio filho. Mas, envelhecida, com certeza. A minha amiga de infância, mãe! Agora, eu sabia que nossa adolescência e toda boa irresponsabilidade daqueles tempos, nunca mais!

Imagem: Flickr/Creative Commons: Renata Nascimento Abreu

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O dia em que meu casamento acabou


Ela estava atônita. Durante todo o namoro tinha suportado dividi-lo com a televisão. Casaram-se. A bendita ficou instalada na sala. Mas agora ele havia cismado de levá-la para o quarto. O único lugar que era só deles. Isso não podia acontecer.
Foi até à sala, sabia que ele estaria lá, no lugar de sempre, do jeito de sempre, deitado, melhor, esparramado no sofá, assistindo à TV.
- Quanto ela custou? - indignada apontado para a televisão.
- Uns quinhentos reais... – sem sequer desviar o olhar.
Voltou para o quarto, abriu uma das seis portas do guarda-roupa cor de mogno, estava ali seu objeto de metal mais precioso, uma latinha de bombons que hoje servia pra juntar moedas e dinheiro trocado. Contou: “quinhentos reais! E ainda sobra um troco”.
Encontrou a mesma cena quando retornou à sala. Puxou a tomada, desligou a rival.
- Por que você desligou a TV? - ao sair da inércia.
- Vou levá-la lá pro quarto. – com voz de
vilã de novela.
Custando a carregar o peso, caminhou para quarto. Primeiro, botou o aparelho encima da cama cor de mogno do casal. Foi à janela. Olhou para baixo, ninguém na calçada. Eles moravam no 303 de um prédio que era o último de uma rua sem saída num bairro residencial e que não tinha vizinhos de frente. Portanto, quase não havia movimento. Àquela hora: três da tarde de uma quinta-feira útil, nem formigas devia haver na calçada. Perfeito para a execução do plano. Atirou a TV pela janela.
- Que barulho foi esse? – gritou ainda jogado no sofá.
- Num sei, deve ser na construção ao lado. – calma e aliviada.
Pegou vassoura, pázinha e saco de lixo na área de serviços e desceu para dar um enterro digno àquela com quem rivalizara a atenção do marido por tantos anos.
Juntou os pedaços do que nunca mais ficaria inteiro. Botou tudo dentro do saco preto de lixo e colocou na lixeira. Higienicamente.
Voltou pro apartamento. Arrumou as roupas e alguns objetos pessoais dentro de uma enorme mala rosa-choque de rodinhas. Pegou a latinha que foi de bombons e agora e´ de dinheiro. Olhou pro guarda-roupa cor de mogno, pra cama de casal cor de mogno e pra cômoda cor de mogno, encima da qual, ele queria entronar a falecida.
Ao passar pela sala, colocou quinhentos reais encima da estante cor de mogno.
- Aonde você vai? – quase dormindo.
- Ali.
“Mesmo com esta mala, nunca desci estas escadas tão leve.”

Imagem: Flickr/Creative Commons: Jeff Belmonte

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Flores para recepcioná-los!


Este blog nasceu para publicar conteúdos relacionados ao cotidiano feminino. Ficções e fatos reais que poderiam acontecer com qualquer uma de nós. Os homens também estão convidados a participar, apesar do objetivo e do nome blog. Aliás, quem o batizou foi meu marido. Portanto, rapazes, sintam-se à vontade! Sem mais delongas, vamos às feminices!

Imagem: Daniela Fonseca

 
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